segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Notícias do Sínodo dos Bispos 01 - Pe. Lima


A SOLENE LITURGIA DE ABERTURA DO SÍNODO


Estou em Roma, no Vaticano, participando da XIII Assembleia dos bispos como assessor; faço parte do corpo de secretários que auxiliam a Secretaria Geral na redação e confecção dos textos. Alguns irmãos e amigos sugeriram que mantivesse comunicação constate. Para isso vou procurar transmitir, através desse meio, as impressões e algum conteúdo que eu possa transmitir, pois há bastante restrição por parte dos Regulamentos do Sínodo.

Hoje, dia 07 de Outubro pela manhã, houve a solene Eucaristia presidida por Bento XVI que oficialmente deu início ao Sínodo dos Bispos. Foi uma liturgia daquelas que só no Vaticano pode-se admirar e participar, dada sua magnitude, solenidade, pompa e circunstância. Presentes a maioria dos delegados das Conferências Episcopais, aqueles que foram especialmente convidados pelo Papa, e todo o pessoal de serviço, como é o meu caso (alguns ainda estão chegando). Participavam também muitos cardeais, arcebispos, bispos e oficiais da Cúria Romana. O brilho da liturgia, realizada na Praça São Pedro, era visível quer pela esplendor dos paramentos, quer pela harmonia dos corais, do órgão e da orquestra de metais (me extasiei!). Todos concelebrantes estavam ricamente paramentados: os mais de cem sacerdotes estavam com casula verde, os bispos, arcebispos e cardeais com suas insígnias litúrgicas, como também os inúmeros diáconos. Destacavam-se, pelas cores muito vivas e variedade de formas de paramentos e mitras, os patriarcas e padres orientais, ou os representantes dos vários ritos da Igreja Católica, quer do Ocidente e Oriente. As duas horas e meia de celebração podem ser vistas no vídeo abaixo:


Antes do início da Missa, houve a proclamação, como Doutores da Igreja, de São João D'Ávila (espanhol, séc. XVI) e de Santa Hildegarda de Bingen (alemã, séc. XII), dois santos que, conforme Bento XVI, deixaram marca intensa de fé, em períodos e ambientes culturais bem diferentes e enfrentaram com muito sucesso os desafios da evangelização em suas distintas épocas, e que portanto, tornam-se exemplos para nós. No caso de São João D'Ávila, parece que o Papa quer dar um especial alento e coragem à Espanha que, dentre os países europeus, passa nos nossos dias por séria crise religiosa. Por outro lado, Santa Hildegarda de Bingen, chamada de "profeta teutônica", é a 4a. mulher reconhecida como doutora pela Igreja, depois de Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Sena e Santa Teresinha de Lisieux. Ela lecionou teologia, foi fundadora de dois mosteiros, escreveu livros de mística e teologia, textos de medicina e análises de fenômenos naturais. 

Uma coisa que me chamou a atenção foram os constantes avisos para a imensa assembleia (a Praça de São Pedro estava toda tomada) afim de que mantivesse o recolhimento e sobretudo o silêncio, sobretudo após a homilia e a comunhão. Foi edificante sentir o silêncio daquelas milhares de pessoas, sobretudo nos momentos mais significativos da grande celebração.

Os textos bíblicos e orações da Missa não foram especiais para essa data, mas sim os do 24o. Domingo do Tempo Comum. A abertura do Sínodo e a comemoração de Nossa Senhora do Rosário (7 de Outubro) foram lembradas nas preces e na homilia. O papa, logo no início da homilia, disse: "Com esta solene concelebração inauguramos a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como tema: A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã. Esta temática responde a uma orientação programática para a vida da Igreja, de todos os seus membros, das famílias, comunidades, e das suas instituições".

E ainda: "No início desta Assembleia sinodal, devemos aceitar o convite da 2a. leitura de hoje para fixar o olhar no Senhor Jesus, «coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte» (Hb 2,9). A Palavra de Deus nos coloca diante do crucificado glorioso, de modo que toda a nossa vida e, em particular, o compromisso desta assembleia sinodal, se desenrole na presença d’Ele e à luz do seu mistério. A evangelização, em todo tempo e lugar, teve sempre como ponto central e último Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (cf. Mc 1,1); e o Crucificado é por excelência o sinal distintivo de quem anuncia o Evangelho: sinal de amor e de paz, chamada à conversão e à reconciliação. Sejamos nós, Venerados Irmãos, os primeiros a ter o olhar do coração dirigido a Ele, deixando-nos purificar pela sua graça".

Enquanto o Papa falava, eu admirava o grande crucifixo, colocado ao centro e no alto do frontispício da Basílica Vaticana, como um imenso cenário que fazia de fundo a toda celebração. É um chamado urgente ao cristocentrismo na nossa fé e na ação pastoral.

O Papa refletiu também sobre o significado da evangelização, missão principal da Igreja, tanto para os povos não cristãos, como hoje, principalmente para povos de antiga cristandade que estão se afastando da fé... e essa é a nova evangelização. "O Sínodo que se abre hoje é dedicado a essa nova evangelização, para ajudar as pessoas a terem um novo encontro com o Senhor, o único que dá sentido profundo e paz para a nossa existência". Referiu-se também ao exemplo dos dois santos declarados doutores. A partir do tema da 1a. leitura e do Evangelho, falou da dignidade do matrimônio, afirmando: "há uma clara correspondência entre a crise da fé e a crise do matrimônio. E, como a Igreja afirma e testemunha há muito tempo, o matrimônio é chamado a ser não apenas objeto, mas o sujeito da nova evangelização. Isso já se vê em muitas experiências ligadas a comunidades e movimentos, mas também se observa, cada vez mais, no tecido das dioceses e paróquias, como demonstrou o recente Encontro Mundial das Famílias".

No final da Missa, já no meio dia, Bento XVI ao rezar o Angelus, comentou a festa de Na. Sa. do Rosário e exortou que, no Ano da Fé, todos os fiéis retomem o hábito de rezar o terço diariamente, contemplando os mistérios da vida de Jesus e de Maria. Falou em várias línguas, inclusive em português, aliás, bem pronunciado!

Antes e depois dessa solene liturgia, pude me encontrar e trocar idéias com os bispos brasileiros que participarão do Sínodo: Dom Odilo, Dom Sérgio Rocha, Dom Leonardo, Dom Geraldo Lyrio e Dom Beni. O presidente da CNBB, Dom Damasceno, não foi eleito pela CNBB pois pensava-se que seria convocado pelo Papa, o que não aconteceu. Mas ele virá para a abertura do Ano da Fé no próximo dia 11.

Termino com as palavras de Bento XVI: "Confiamos a Deus o trabalho do Sínodo com o sentimento vivo da comunhão dos santos invocando, em particular, a intercessão dos grandes evangelizadores, dentre os quais queremos incluir com grande afeto, o Beato Papa João Paulo II, cujo longo pontificado foi também um exemplo da nova evangelização. Colocamo-nos sob a proteção da Virgem Maria, Estrela da nova evangelização. Com ela, invocamos uma especial efusão do Espírito Santo, que ilumine do alto a Assembleia sinodal e torne-a fecunda para o caminho da Igreja, hoje no nosso tempo".

Roma, 07 de Outubro de 2012.

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

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