terça-feira, 31 de maio de 2011

Quantos e por quê? - II

No artigo passado respondemos a questão: quem instituiu os sacramentos e como os instituiu? Vejamos, agora outras questões:

Por que o número sete para os sacramentos?

Contra os Reformadores protestantes, o Concílio de Trento ensinou: “Se alguém disser que os sacramentos da nova lei são mais ou são menos que sete... ou que algum destes sete não é verdadeira e propriamente sacramento, seja anátema”. Portanto, são sete os sacramentos, nem mais nem menos! Mas, que significa isso? Interessa ao Concílio não a questão do número dos sacramentos em si, mas sim afirmar que o Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção, a Ordem e o Matrimônio são realmente sacramentos e somente estes o são! Eis alguns exemplos interessantes: sabemos que o sacramento da Ordem é constituído por três graus (episcopado, presbiterato e diaconato), todos os três realmente graus sacramentais. Assim, se afirmássemos que os sacramentos são nove, considerando que o episcopado e o diaconato também são verdadeiros sacramentos, não estaríamos dizendo nenhuma heresia, apesar de alterar o número sete! Não estaríamos inventando sacramentos, mas simplesmente arrumando de modo diferente os sacramentos instituídos por Jesus Cristo . Teríamos a seguinte relação: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção, Episcopado, Presbiterato, Diaconato e Matrimônio. Um outro exemplo interessante: suponhamos que algum teólogo afirmasse que o Batismo e a Confirmação são um só sacramento com dois graus, teríamos, então, seis sacramentos e, nem assim, estaríamos ferindo o Concílio de Trento, desde que se mantenha firme que a Confirmação realmente comunica a graça de um modo peculiar! Assim, a insistência no número sete é simbólica!

Mas, então, por que o número sete? Já vimos em outros artigos que, na Bíblia, o número sete significa plenitude e totalidade: é a soma de três (que indica Deus) e quatro (que significa o mundo); então, Deus e o mundo, tudo quanto existe! Quando a Igreja afirma que são sete os sacramentos, quer simplesmente afirmar que eles conferem a totalidade da graça de Cristo e também que cobrem a totalidade da existência humana e a coloca sob a ação benfazeja e salvadora da graça de Deus que veio a nós por Jesus Cristo na força do Espírito Santo. Claro que a graça não nos vem somente através dos sacramentos; mas é certo que os sacramentos são canais privilegiados desta graça divina e nos coloca em contato com ela na sua plenitude. Toda a existência humana, em todos os seus momentos, é marcada pela graça do Cristo Jesus!

Quem celebra os sacramentos?

Para responder a isto é necessário compreender uma coisa importante: no Novo Testamento há um só sacerdote, que eleva ao Pai o culto verdadeiro e santo, Jesus Cristo! Mas todos nós, cristãos, participamos do seu sacerdócio: os leigos, pelo Batismo; os bispos, padres e diáconos, pelo sacramento da Ordem; os leigos como membros do Corpo do Cristo-único sacerdote e os ministros ordenados como representantes do Cristo-Cabeça do Corpo, que é a Igreja.

Assim, os sacramentos são para a Igreja e quem os celebra é a Igreja, comunidade dos batizados, enquanto Corpo do Cristo Cabeça. Ao participarmos da celebração dos sacramentos nós somos concelebrantes, cada um, porém do seu modo específico. Por exemplo: na Eucaristia é toda a Igreja quem celebra, todos os batizados que dela participam. Nenhum cristão assiste à Missa; o cristão participa da Missa! Já um não-batizado, mesmo que esteja lá e responda e cante, apenas assiste! Participamos da celebração dos sacramentos porque somos membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Mas um é o modo de participar dos leigos e outro o modo de participar do sacerdote: o padre torna presente o Cristo Cabeça do Corpo que é a Igreja, enquanto os batizados participam como membros do Corpo de Cristo.

Então, quem celebra os sacramentos? A Igreja, Corpo de Cristo, unida à sua Cabeça, que é o Cristo, tornado presente na Comunidade pelos ministros ordenados.

Qual é a finalidade da celebração dos sacramentos?

Cristo morreu e ressuscitou para derramar sobre nós o Espírito Santo que nos dá a vida divina, nos torna semelhantes ao Cristo ressuscitado e, assim, nos faz filhos do Pai, à imagem do Filho Jesus. Por isso no dia mesmo da Ressurreição o Senhor derramou seu Espírito sobre a Igreja. Ora, é exatamente este dom do Espírito (que nos cristifica, nos torna imagem do Filho Jesus e, assim, vai nos fazendo filhos do Pai até a vida eterna) que recebemos em cada sacramento. Celebrando os sacramentos, recebemos o Espírito que nos faz semelhantes ao Filho Jesus e, assim, filhos do Pai e herdeiros do Céu.

Qual, então, a finalidade dos sacramentos? Cristificar-nos, fazendo-nos templos do Espírito e filhos de Deus Pai e, por isso, herdeiros do Céu. Cristificando-nos, os sacramentos nos inserem cada vez mais no Corpo do Senhor, que é a Igreja. Por isso, podemos dizer também que os sacramentos constróem a Igreja, Corpo de Cristo.

Pronto! Agora é só passar ao estudo de cada sacramento individualmente.

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracajú-SE

Fonte: http://www.domhenrique.com.br/

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quantos e por quê? - I

Voltamos, com este artigo a falar sobre os sacramentos. Seria bom que você relesse os outros três que já escrevi. As questões que vamos responder neste artigo são: foi Cristo quem instituiu os sacramentos? Como os instituiu? Como entender este conjunto de sete gestos? Quem celebra os sacramentos? Com que objetivo?

Quem instituiu os sacramentos e como os instituiu?

É convicção da Igreja que os sacramentos todos foram instituídos por Cristo. Somente assim eles têm de fato um valor salvífico verdadeiro. Corrigindo os erros de Lutero e Calvino, pais do protestantismo, o Concílio de Trento ensinou de modo infalível, com a autoridade que Cristo deu aos Apóstolos e seus legítimos sucessores, os Bispos: “Se alguém afirmar que os sacramentos da nova lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, nosso Senhor... seja anátema (= seja separado da Igreja)”. Mas, onde, na Bíblia aparece a instituição dos sete sacramentos, um por um? Antes de responder esta questão é necessário compreender o que o Concílio quis afirmar com a palavra “instituir”. Quando estudamos as atas do Concílio de Trento, vemos explicado lá que os Bispos participantes do Concílio afirmaram que Cristo “instituiu” no sentido que é ele, Jesus Cristo, diretamente, quem confere eficácia, poder, efeito ao rito celebrado. Em outras palavras: a força do sacramento vem de Cristo e só dele, é manifestação da sua obra de salvação. Os sacramentos não são, como dizia erradamente Calvino, instituições da Igreja. Para compreender isto é necessário reler o que escrevi sobre Jesus Cristo, o Sacramento primordial e sobre a Igreja, sacramento de Cristo! Jesus é a presença de salvação, visível e eficaz, de Deus no nosso meio – por isso ele é o Sacramento do Pai; a Igreja, por sua vez, é continuadora da presença de Cristo: o Senhor fez dela sinal visível e eficaz de sua palavra e de sua ação – ela é sacramento de Cristo! Então, ao instituir a Igreja o Senhor Jesus tinha a intenção clara que ela fosse sacramento de sua presença e que seus gestos e palavras fossem sinais eficazes de sua ação e de sua presença. Neste sentido toda a Igreja é sacramental: Jesus não quis apenas os sete sacramentos; quis muito mais: desejou a própria estrutura sacramental da Igreja; quis que sua presença graciosa e salvífica fosse vista, concreta, palpável nos ritos, gestos, ação de serviço que a Igreja realiza entre os homens. É isto que Trento quer ensinar: a estrutura sacramental da Igreja não vem nem dos Apóstolos, nem da própria Igreja, mas do próprio Cristo Jesus, Sacramento primordial! E isto é dogma de fé!

Uma observação importante: o Concílio não quis entrar na questão de como cada sacramento foi instituído por Jesus durante sua vida terrena e muito menos se preocupou em catar versículos da Escritura para provar, tintim por tintim a instituição de cada sacramento. Esta tarefa a Igreja deixa para o estudo dos exegetas e teólogos! Interessa à Igreja que, biblicamente, está mais que dito que Cristo fez de sua Igreja sacramento de sua presença, prolongamento de seus gestos e palavras salvíficos! No entanto, isto não significa que não possamos ver no próprio Novo Testamento o embrião da prática de cada um dos sacramentos. Vejamos somente alguns exemplos – existem outros:

- para o batismo: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5); “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...” (Mt 28,19).

- para a eucaristia: “Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Em seguida, tomando um cálice, depois de dar graças, deu-lhes, dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos pecados’” (Mt 26,26ss; cf. Mc 14,22-24; Lc 22,19s; 1Cor 11,24s).

- para a penitência: “E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18s); “Após essas palavras, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem não perdoardes os pecados não serão perdoados’” (Jo 20,22s).

- para a confirmação: “Quando os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram uma oração pelos novos fiéis a fim de receberem o Espírito Santo, visto que ainda não havia descido sobre nenhum deles. Tinham sido somente batizados em nome do Senhor Jesus” (At 8,14ss); “Ouvindo isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. 6 Pela imposição das mãos, Paulo fez descer sobre eles o Espírito Santo. Falavam em línguas e profetizavam” (At 19,5s).

- para a ordem: “E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim’” (Lc 22,19); “Por este motivo eu te exorto reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” (2Tm 1,6).

- para o matrimônio: “Não lestes que no princípio o Criador os fez homem e mulher e disse: Por isso o homem deixará o pai e a mãe para unir-se à sua mulher, e os dois serão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,4-9); “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. Maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Decerto, ninguém odeia sua própria carne mas a nutre e trata como Cristo faz com sua Igreja, porque somos membros de seu corpo. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne .Grande é este mistério. Quero referir-me a Cristo e sua Igreja” (Ef 5, 21-32).

- para a unção dos enfermos: “Há algum enfermo? Mande, então, chamar os presbíteros da Igreja, que façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará e, se tiver cometido pecado, será perdoado” (Tg 5,14s).

Vejam bem: estes textos não são provas do momento em que os sacramentos foram instituídos! Eles simplesmente mostram como o embrião de cada ação sacramental da Igreja estava presente na ação de Cristo e dos Apóstolos por ele enviados! Assim, todos e cada sacramento remota a Cristo, que fez de sua Igreja sacramento de salvação!

Por agora, basta. No próximo artigo continuaremos: como a Igreja chegou a compreender estes sete gestos sagrados como sacramentos: por quê sete? e para quê?

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracajú-SE

Fonte: http://www.domhenrique.com.br/

domingo, 29 de maio de 2011

Cristo, sempre presente na sua Igreja

Vimos, no artigo passado, que a Igreja é sacramento de Cristo, sinal real, eficaz de sua presença. Agora perguntamos: onde, em que momentos Cristo está presente na sua Igreja?

Para compreender bem isto é necessário recordar o que vimos no artigo passado: Cristo está presente na Igreja pela potência do Espírito Santo: ele partiu para o Pai, mas nos deu o seu Espírito, que é sua própria vida ressuscitada, sua energia, sua potência salvadora, sua força no caminho. É assim que ele, na Glória, age continuamente sobre nós e em nós: “Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre” (Jo 14,16). “Eu vos digo a verdade: é do vosso interesse que eu parta, porque se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas seu eu for, enviá-lo-ei a vós!” (Jo 16,7). É isto que significam aquelas palavras da Escritura: “Eu sou a videira. Todo ramo em mim que não produz fruto ele o corta... Permanecei em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Ei sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,1-5). Vejamos bem: Jesus imagina nossa união com ele não simplesmente como um afeto, uma emoção, um sentimento, uma lembrança, uma união de ideal e de ação. É algo muito mais forte e real: ele quer que sua vida ressuscitada, gloriosa, esteja em nós; ele deseja que nós, realmente, vivamos nele, dele e por ele! Por isso a alegoria da videira: como os ramos vivem da seiva do tronco, nós vivemos da seiva de Jesus. Esta seiva é o Santo Espírito. Sem ela, não há Igreja, não há vida de Cristo para nós! Sem o Espírito agindo constantemente na Comunidade dos discípulos, a Igreja seria somente a Fundação Jesus de Nazaré, ou o PJN: Partido de Jesus de Nazaré, um personagem do passado, vivo somente na nossa lembrança! Mas, não é assim: os cristãos, membros da Igreja, estão enxertados em Cristo, são com ele uma só coisa, vivem a vida dele! São Paulo ensina a mesma coisa com outra imagem: “Ele é a Cabeça da Igreja, que é seu corpo (Cl 1,18). (O Pai) o pôs acima de tudo, como cabeça da Igreja, que é seu corpo” (Ef 1,22). “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos!” (Ef 4,4-6). “Ele (Cristo) é que concedeu a uns ser apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e mestres, para aperfeiçoar os santos (os cristãos) em vista do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo” (Ef 4,11-12).

Em todos estes textos aparecem de modo claro algumas idéias importantes:

1) Cristo é Cabeça da Igreja. Para a medicina do tempo de Paulo, a cabeça dava vida, crescimento, harmonia e direção ao corpo. Paulo pensa Cristo exatamente com esta função capital (=capital, do latim caput = cabeça). Os teólogos da Idade Média falavam até em graça capital: a graça que Cristo Cabeça (caput) derrama sobre o Corpo, que é a Igreja!

2) Cristo Cabeça age no seu Corpo, que é a Igreja, pela energia, pela potência do seu Espírito Santo. Assim ele, do céu, onde está à direita do Pai, enche continuamente o seu Corpo com a sua vida divina, com a sua força, fazendo-o crescer, permanecer unido e no caminho certo. O Espírito é a Presença de Cristo entre nós e em nós!

3) Este Espírito que torna o Cristo presente e atuante na Igreja, dá aos discípulos a santidade de Cristo, fá-los permanecer firmes na única fé e numa só esperança, suscita os vários ministérios e carismas... tudo para que a Igreja vá sendo edificada cada vez mais como Corpo do Senhor e possa crescer sempre mais na direção do Cristo Cabeça.

Então, podemos concluir algo importantíssimo: toda a vida da Igreja, tudo quanto ela faz, tudo que ela é, está impregnado do Espírito Santo e, portanto, da presença do Cristo Ressuscitado. Ele age sempre na Comunidade de seus discípulos. Em certo sentido, tudo na vida da Igreja é um sacramento de Cristo. Eis alguns exemplos:

- Cristo está presente na Comunidade reunida para rezar, para refletir e, sobretudo, para celebrar a Eucaristia: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome...”

- Está presente na Comunidade que evangeliza e anuncia o Senhor: “Ide! Eu estarei convosco...”

- Está presente nos irmãos, sobretudo nos mais pequeninos e necessitados: “O que fizerdes a eles, a mim o fizestes”.

- Está presente na Palavra santa proclamada, meditada, partilhada e sobretudo anunciada e comentada na homilia da Celebração eucarística: “A Palavra se fez carne e habitou entre nós!”

- Está presente nos ministros sagrados, sobretudo naquele que preside à Eucaristia, o Bispo diocesano e seus presbíteros: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos recebe a mim recebe”.

- Está presente no Bispo de Roma, sucessor de Pedro: “Tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas! Confirma teus irmãos!”

- Está presente de modo especial nos sacramentos e, de modo único, e excelente na Eucaristia!

Então, a presença de Cristo, graças à ação do Espírito, está em toda a Igreja, em cada um de nós. Por isso mesmo é toda a Igreja e a Igreja toda que é sacramento do Senhor Jesus!
No entanto, o Senhor Jesus, pelos seus próprios gestos enquanto viveu entre nós, inspirou sua Igreja a ver em sete momentos particulares, momentos de celebração, uma presença especial, intensíssima do Cristo, pela potência do Espírito. Estes sete momentos são o que chamamos sacramentos! Assim, chegamos aos nossos conhecidos sete sacramentos: Batismos, Confirmação Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Lembre-se que o número sete significa na Bíblia plenitude. Pois bem: estes sete momentos celebrativos dão-nos, de verdade, na força do Espírito do Ressuscitado, a plenitude da graça, da vida que o Cristo recebeu do Pai na ressurreição! Por eles, nós vivemos intensamente a vida do próprio Senhor Jesus, sacramento do Pai!

No próximo artigo vamos estudar melhor o significado dos sete sacramentos: como Cristo os instituiu? Como entender este conjunto de sete gestos? Quem celebra os sacramentos? Para quê? Somente depois de compreendermos bem isto é que estudaremos cada sacramento em separado!

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracajú-SE

Fonte: http://www.domhenrique.com.br/

Cristão não praticante..., isso existe?

Há uma corrente no Brasil que se denomina Católico não praticante. Quem é  VERDADEIRAMENTE Católico, sabe que isso não existe. Ou se é ou não se é.

Parece que agora esta surgindo duas novas categorias... Cristão praticante e cristão não praticante...

Mas será que isso existe???

Infelizmente existem muitos que se denominam cristãos, mas que não tem idéia do que realmente é ser cristão, pois não entenderam até agora o amor de Cristo. Esses acabam difamando e prestando um contra testemunho daquilo que realmente é um Cristão, pois cristão VERDADEIRO é aquele...

- que não julga, pois sabe que o julgamento cabe a Deus.
- que mostra em seu TESTEMUNHO, palavras e ações, o amor imenso de Deus.
- que de sua boca sai palavras mansas, porém fortes, com propriedade e verdade.
- que antes e acima de tudo coloca Deus e cumpre o mandamento deixado por Cristo “...amai ao próximo como a si mesmo”.
- que deixa o orgulho, a arrogância de lado e assume a sua cruz.
- que sabe respeitar a opinião alheia e mostra por seus atos um Deus piedoso e bondoso.
- que se firma na palavra e cumpre os mandamentos.
- que anda em caminhos retos independente daquilo que os outros dizem.
- que aceita Jesus como salvador e o busca diariamente em suas orações.

E por ai vai...

Ser cristão não é fácil e ninguém disse que seria fácil, como vemos na passagem de Eclesiástico 2,1 – “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação”

Não podemos ainda nos esquecer da passagem de Ap 3,16 - "Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te."

Sim, é isso que Deus espera de nós. Uma posição. Uma postura firme. Uma decisão. Se for diferente disso, se ficarmos em cima do muro, não servimos para Deus.

Temos que parar de fingir que não vemos as coisas. Temos que parar de brincar de "casinha".

Busquemos as coisas dos Alto.

Anunciemos o Cristo vivo, que morreu por nossos pecados, que amou o mundo assim como o Pai. Amor esse que é Imenso.

Sejamos reflexos do Cristo Vivo. Assumamos nossa missão.

Fiquem com Deus.

Por Carlos Garcia

Fonte: http://catequese-viva.blogspot.com/

sábado, 28 de maio de 2011

A Igreja, o Sacramento de Cristo

Vimos no artigo passado o que significa um sacramento: um sinal eficaz; sinal que torna presente a graça, a glória, a vida de Deus. Vimos, então, que o Cristo Jesus é o Sacramento de Deus: nele Deus fez-se presença pessoal no nosso meio. Assim, Cristo é o Sacramento primordial de Deus; ele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Demos agora um passo adiante. O Filho de Deus feito homem, Jesus, presença viva e pessoal de Deus entre nós para nos salvar, viveu num tempo e num espaço: viveu há dois mil anos na Terra Santa. Ele entrou uma só vez na nossa história, no nosso mundo, no nosso tempo. Mas ele veio para todos, em todos os tempos; ele deseja tornar-se presente a todo instante e estar bem perto de todos os corações: seu desejo é entrar em contato conosco e que nós entremos em contato com ele, com sua palavra santa e com sua vida divina. Por isso ele fundou a Igreja! Ela é sacramento (sinal eficaz, real) de presença de Cristo no mundo; ela é Cristo continuado, corpo de Cristo crucificado e vivificado pelo Espírito na Ressurreição! No Concílio Vaticano II os Bispos do mundo inteiro, sucessores legítimos dos Apóstolos, ensinaram: “A Igreja é, unida a Cristo, como que um sacramento, isto é, um sinal e instrumento da íntima união com Deus e de todo o gênero humano” (Lumen Gentium 1).

Isso quer dizer que a Igreja vive de Cristo. Na sua Ressurreição, ele derramou sobre sua Igreja o seu Espírito Santo – o mesmo Espírito com o qual o Pai o ressuscitou dos mortos. Assim, a Igreja vive do Espírito de Cristo e no Espírito de Cristo... como o corpo, que vive da vida da cabeça, como os ramos que vivem da seiva do tronco: “Ele é a Cabeça da Igreja, que é seu corpo” (Cl 1,18). “(O Pai) o pôs acima de tudo, como cabeça da Igreja, que é seu corpo” (Ef 1,22). “Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor. Eu sou a videira e vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,1.5). Estes textos são importantes porque nos mostram que há uma união real, concreta, verdadeira, entre Cristo e a comunidade de seus discípulos, que é a Igreja. Ele realmente está presente na sua Igreja, vivificando-a, sustentando-a, agindo nela! A Igreja está ligada ao seu Senhor Jesus como o corpo está ligado à cabeça, como os ramos estão enxertados à videira. E o Espírito de Cristo ressuscitado, o Espírito Santo é a seiva, é a vida que vivifica, dirige e faz crescer este corpo, estes ramos! É assim que Cristo permanece vivo na Igreja, atuando nela na potência do Espírito: fala, age, santifica, ensina, exorta, salva pela Igreja! A Igreja é, portanto, um verdadeiro sacramento de Cristo, uma sinal real da sua presença! Ela, Igreja, não existe para si mesma, mas para anunciar Jesus, para provocar o encontro entre Jesus Salvador e a humanidade necessitada da salvação! Ela, a Igreja, não tem nenhuma salvação para dar à humanidade a não ser Jesus Cristo: é ele quem a santifica e a torna instrumento de salvação. Santo Ambrósio, grande bispo de Milão e Doutor da Igreja, dizia, no século IV: “A Igreja é a verdadeira lua. Da luz imorredoura do sol, ela recebe o brilho da imortalidade e da graça. De fato, a Igreja não reluz com luz dela mesma, mas com a luz de Cristo. Ela busca seu esplendor no sol da justiça, que é Cristo, para depois dizer: Eu vivo, mas não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim!” A Igreja é, portanto, o “ambiente”, o “clima”, o “espaço”, a “atmosfera” do nosso encontro com o Deus vivo, presente em Jesus Cristo. Ela é o sinal privilegiado através do qual Deus demonstra suas atenções para conosco e sua fidelidade a toda humanidade.

Mas, como disseram os Bispo do Vaticano II, ela é também sacramento da íntima união de todo o gênero humano. Isso mesmo: reunidos pelo Pai através da Palavra do Senhor Jesus, reunidos no Santo Espírito do Ressuscitado nós somos um novo povo – o Povo de Deus da nova e eterna Aliança, o povo no qual toda a humanidade é chamada a entrar para ser filha do mesmo Pai, imagem do único Filho pela ação potente do único Espírito que nos une num só Corpo de Cristo! Por isso, a Igreja é já sacramento (sinal verdadeiro, eficaz) da união de toda a humanidade com Deus e dos homens entre si, como deverá ser um dia, na Glória do Pai.

Por tudo isso, um monge do século IV saudava assim a santa Igreja: “Que jamais te eclipses na escuridão da lua nova, ó Lua sempre irradiante! Ilumina-nos o caminho por entre a impenetrável escuridão divina das Escrituras! Que jamais deixes, ó esposa e companheira de viagem do Sol que é Cristo, o qual como esposo da lua, te envolve em sua luz! Sim, que jamais deixes de enviar-nos da parte dele, nosso Salvador, os teus raios luminosos, a fim de que ele, por si mesmo e através de ti, santa Igreja de Cristo, transmita às estrelas a sua luz, acendendo-as de ti e por ti!”

Pois bem, depois de termos visto que Cristo é o sacramento do Pai e que a Igreja é o sacramento de Cristo entre nós, continuaremos no próximo artigo...

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracajú-SE
Fonte: http://www.domhenrique.com.br/

Diocese de Campina Grande prepara Diretório Pastoral para os Sacramentos.


Após anos de estudos entre comissões, intensificados ano passado, a diocese de Campina Grande (PB) finalizou o processo de construção do seu Diretório Pastoral para os Sacramentos. Este documento tem a finalidade de ser um guia que venha harmonizar o modo como devem ser trabalhados os Sacramentos na Diocese. Ele surge da necessidade de atualização das ações pastorais e das dúvidas que foram surgindo ao longo do tempo com as mudanças na sociedade.
 
Para dom Jaime Vieira Rocha, bispo de Campina Grande, “o Diretório é sinal visível do dinamismo e crescimento pastoral e evangelizador da Igreja, um instrumento norteador para prática sacramental na Igreja diocesana”. Ainda de acordo com o bispo, o Diretório “não é taxativo, mas uma guia para orientação pastoral”.

O Diretório Pastoral para os Sacramentos vem sendo estudado há anos, mas desde a chegada de dom Jaime à diocese, os estudos de elaboração foram intensificados. No último sábado, dia 21, aconteceu uma Assembleia Extraordinária com a participação de todo o Clero (presbíteros regulares e seculares em exercício na diocese), coordenadores diocesanos das Pastorais do Batismo, Catequese, Crisma, Familiar e da Saúde, além dos diáconos, seminaristas, religiosas e secretários paroquiais.

Nesta Assembleia foram apresentados os principais pontos abordados no Diretório, que agora está com um Canonista (especialista em Direito Canônico) e depois será entregue a um especialista em Língua Portuguesa para as devidas correções. Durante a Assembleia, dom Jaime esclareceu que o Diretório é “uma fonte inspiradora para uma Pastoral de conjunto” e que, com a divulgação e utilização do mesmo, “haja a superação de práticas pastorais impostas aos fieis que não são exigidas pela Igreja diocesana e nem constam no Direito Canônico, garantindo assim, os direitos e deveres nas relações entre sacerdotes e fiéis, tornando, cada vez mais, a igreja servidora, adulta e amadurecida”.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um lugar chamado... Catequizando

No começo de nossa caminhada catequética nos deparamos com inúmeros questionamentos. Somos pequenos aprendizes, caminhando nesse lindo projeto evangelizador que Deus confiou a cada um. São os planejamentos anuais, os métodos de encontro, celebrações, etc. Contudo, devemos estar cientes de que existe uma peça fundamental nesse contexto em que Jesus é o protagonista: o catequizando.

Somos catequistas de realidades diversas. De casas simples no campo a prédios luxuosos nas grandes cidades. Nossos grupos de catequese são formados por crianças, jovens e adultos que mesmo em contexto coletivo, estão isolados em seus mundos. Alguns questionamentos atravessam muitos catequistas: nossa maneira de evangelizar atinge a cada indivíduo? Como eles chegam ao encontro? E como saem depois?

Antes de se preocupar com a elaboração do encontro, o catequista deve lembrar sempre do grupo a quem vai se falar. Para muitos esta não é nenhuma novidade. Porém os catequistas já se perguntaram, por exemplo, se existe algum analfabeto no grupo. Caso exista, é preciso trabalhar de uma forma que não se utilize leituras longas e que nem o exponha a sua sensibilidade.

Tomando como base o exemplo acima, nos perguntamos por que o nosso catequizando está nessa situação. Serão as condições financeiras? Nunca teve incentivo de ir à escola?  Daí surge a importância de se preocupar com cada um. Aquele mais tímido será só personalidade? O bagunceiro não está tentando chamar sua atenção por algum motivo? Devemos como catequistas conhecer cada um dos nossos catequizandos, saber sua realidade, sua família, enfim, o mundo que o cerca.

Lembremos de Jesus e Zaquel. “Desça depressa, porque hoje preciso ficar em sua casa” (Lc 19,5). Cristo foi ao encontro, entrou na casa, foi conhecer. Mesmo diante da crítica dos outros: “Ele foi se hospedar na cada de um pecador!” (Lc 19,7).

Temos que seguir o Mestre. Fazer uma catequese que vá além dos muros das igrejas e que chega a cada pessoa. Conhecer seus sonhos, seus medos e com isso ajudá-la no caminho à salvação.
 
Por Marcos Filipe Sousa
Formado em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo
Pela Universidade Federal de Alagoas e membro da Coordenação Arquidiocesana de Catequese de Maceió

Cristo Jesus, o Sacramento Primordial

Com este artigo vamos começar uma série de meditações sobre os sacramentos. O que são? quem os instituiu? qual o sentido de cada um deles? como são celebrados? como bem participar deles? São questões que veremos nesta nova série de temas teológicos.

Antes de mais nada é importante compreender que não podemos falar corretamente dos sacramentos sem começar falando de Jesus Cristo: é ele o sacramento primordial, a fonte de todos os sacramentos. Vejamos bem isso!

Que é um sacramento? É um sinal eficaz da presença de Deus no nosso meio. Observe bem: é um sinal, ou seja, recorda, comunica, exprime, evoca, torna-nos presente uma realidade que de outro modo poderia estar ausente; este sinal é eficaz: não somente recorda, não somente torna presente na lembrança, mas realmente faz acontecer, faz agir aquilo que significa. É por isso que dizemos que o sacramento é um sinal eficaz. Tomemos como exemplo a bandeira do Brasil: “a lembrança da Pátria nos traz!” A bandeira é um sinal do Brasil; mas não é um sinal eficaz: a bandeira é a bandeira e o Brasil é o Brasil! Ela é um sinal meramente convencional, exterior. Já com os sacramentos a coisa é diversa: a Eucaristia, por exemplo: aquele pão representa Cristo, é sinal de Cristo... mas, não é somente um sinal... é, realmente, Cristo presente no seu Corpo ressuscitado! Então, o sacramento sinaliza e faz acontecer o que foi sinalizado! “Re-presenta”, ou seja, torna realmente presente! É esta a primeira idéia que devemos ter quando falamos em sacramentos.

Como foi dito acima, o Sacramento primordial é Cristo Jesus: ele é o Sacramento do Pai: “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), ele é a presença real, eficaz, verdadeira do Pai entre nós: “Quem me vê, vê o Pai; eu estou no Pai e o Pai está em mim” (cf. Jo 14,9,10). Nas palavras de Jesus é o Pai quem nos fala, nos seus gestos é o Pai quem nos estende a mão, no seu carinho para com os pobres, os fracos, os pecadores, é o Pai quem manifesta a sua ternura... em toda a sua vida entre nós é o Pai quem nos reconcilia consigo. Muitíssimas vezes a Escritura afirma isso: “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus... e o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória. A graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,1.14.17-18). Jesus é Deus como o Pai; nele, Filho amado, é a própria vida, a própria presença do Pai que nos é dada; por isso o Evangelista diz: a graça e a verdade do Pai nos vieram por Jesus Cristo!

Outro exemplo desta realidade maravilhosa está na exclamação do próprio povo diante das ações de Jesus: “Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16). Quando Jesus curou o endemoninhado de Gerasa, dá a seguinte ordem ao homem curado: “Vai para tua casa e para os teus e anuncia-lhes o que fez por ti o Senhor na sua misericórdia” (Mc 5,19). Em Jesus é o Senhor (o Pai) quem age! Por isso mesmo o próprio Jesus, quando foi criticado porque acolhia os pecadores, justificou sua atitude contando as três parábolas da misericórdia, mostrando que ele era amigo dos pecadores porque seu Pai também o era (cf. Lc 15). Tantas frases de Jesus mostram que ele é esta presença de Deus: “O meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (Jo 5,17). “Eu falo o que vi de meu Pai” (Jo 8,38). “Eu estou no Pai e o Pai está em mim. As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim realiza suas obras” (Jo 14,10-11).

Por tudo isso, Jesus Cristo é o sacramento do Pai: nele está a vida que vem do Pai (cf. Jo 1,4). Entrar em contato com o Cristo morto e ressuscitado é entrar em contato com a vida do próprio Deus, a vida que o Pai derrama sobre seu Filho na potência do Espírito Santo. Já vimos isso muitas vezes nos artigos passados: o Filho Jesus morto e ressuscitado como homem, recebeu do Pai o Espírito Santo, Espírito de vida, força e poder, e derramou sobre nós: “Exaltado pela direita de Deus, ele (Jesus) recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,33). Então, o caminho pelo qual a humanidade pode caminhar para realmente encontrar Deus é Jesus, sacramento (sinal eficaz, verdadeiro, potente, ativo) da presença divina entre nós. É por tudo isso que dissemos que Jesus é o Sacramente primordial de Deus! Não adianta pedir como Filipe: “Mostra-nos o Pai e isto nos basta!” (Jo 14,8). A resposta será sempre a mesma: “Quem me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em mim. Eu e o Pai somos um!” (Jo 14,9-11).

No próximo artigo continuaremos, desenvolvendo este tema! Somente assim você poderá compreender bem o significado e a importância dos sete sacramentos! Até lá!

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracajú-SE


Fonte: http://www.domhenrique.com.br/

terça-feira, 24 de maio de 2011

ANÚNCIO


 Deus é a origem e o destino de toda criatura. Deus pessoal, absolutamente único, do qual tudo se origina e no qual se encontram a vocação e o destino último. Deixar Deus para outra hora da vida é diferente da ação de Jesus, que se inspira radicalmente na certeza de que o crer no Deus vivo, o levar absolutamente a sério o relacionamento de fé, de amor e de esperança para com o único Deus verdadeiro é o fundamento mesmo da vida humana e única garantia da participação na vida eterna com Deus.

[...] O centro do primeiro anúncio (querigma) é a pessoa de Jesus, proclamando o Reino como uma nova e definitiva intervenção de Deus que salva com um poder superior àquele que utilizou na criação do mundo. Essa Salvação “é o grande dom de Deus, libertação de tudo aquilo que oprime a pessoa humana, sobretudo do pecado e do Maligno, na alegria de conhecer a Deus e ser por ele conhecido, de o ver e se entregar a ele” (EN 9; DGC 101). [1]

O conteúdo fundamental do querigma é a morte e ressurreição de Jesus Cristo enquanto acontecimento salvífico atual. O Diretório Nacional de Catequese, nos números 30‑32, explicita os elementos essenciais que devem fazer parte do querigma:
• Jesus que anuncia a chegada do Reino e o amor do Pai;
• a salvação em Cristo e a nossa correspondência e responsabilidade para com esse amor;
• a Igreja, germe e início desse Reino;
• o destino eterno e glorioso daquele que crê, ama e espera.

O querigma apresenta o primeiro anúncio vigoroso da pessoa de Jesus Cristo, do Reino, da Igreja e da salvação. Intui‑se que o Deus anunciado por Jesus Cristo é alguém significativo e vital para sua realização pessoal. “Aqueles que serão seus discípulos já o buscam (cf. Jo 1,38), mas é o Senhor quem os chama: ‘Segui‑me’ (Mc 1,17; Mt 9,9). É necessário descobrir o sentido mais profundo da busca, assim como é necessário propiciar o encontro com Cristo que dá origem à iniciação cristã”. [2]

O Verbo de Deus, Jesus, se fez carne e tornou‑nos “participantes da natureza divina” (2Pd 1,4). Isso para que, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, nos tornemos filhos de Deus. Jesus é a admirável união da natureza divina e da natureza humana na única pessoa do Verbo. Um na Trindade. É verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Com Jesus, Verbo de Deus encarnado, acontece a maior novidade: Deus se revela em seu Filho. A salvação nos foi dada, toda a plenitude da história humana chega ao seu ápice. Agora vivemos o tempo novo ou os últimos tempos, porque nada pode ser maior que a novidade: Jesus, o Filho de Deus que veio a este mundo para nos salvar.

O Reino não é comida nem bebida. Ele se faz presente naqueles que aderiram a Cristo e vivem conforme o modo que Jesus atuou nesse mundo. Jesus é o Messias esperado que veio libertar os oprimidos e inaugurar o “Reino de Deus [que] é justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17).

Esse foi o anúncio impactante de Pedro e Paulo que ficou registrado em Atos dos Apóstolos e nas Cartas. Em frases curtas e testemunhais apresentam o Deus revelado por Jesus e a novidade de vida que os levavam a ser apóstolos, enviados da verdade. “O poder do Espírito e da Palavra contagia as pessoas e as leva a escutar Jesus Cristo, a crer nele como seu Salvador, a reconhecê‑lo como quem dá pleno significado a suas vidas e a seguir seus passos”. [3]

São Paulo, em seu querigma, fala da relação pessoal com o único Deus verdadeiro como algo que precede o anúncio do Evangelho (At. 14,15; 1Ts 1,9‑10; Jo 17,3). Crer no único Deus verdadeiro não deve ser entendido apenas como ato nocional e cognitivo, mas sim como começar a ter uma relação pessoal de confiança e de amor para com Deus. Crer em Deus significa confiar nele (fides qua, adesão). Confiança de fé em um Deus que já se revelou e com o qual me comprometi. Âmbito da aliança (amor e confiança razoável). Não é confiança cega, está conjugada com uma determinada idéia de Deus e uma determinada verdade (conteúdos dogmáticos) que apóiam a confiança nele.

Padre Antonio Francisco Lelo
Doutor em Liturgia; editor‑assistente de Paulinas Editora
(In Prefácio à edição brasileira de “Anúncio Querigmático” de Joseph Gevaert)

[1]  CNBB, Diretório Nacional de Catequese, n. 30.
[2]  DAp, n. 278a.
[3]  Ibid., n. 279.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Catequista NÃO é voluntário

Frequentemente as pessoas que trabalham dentro da igreja são tidas como voluntárias.

Segundo o dicionário Michaelis, voluntário é o indivíduo que faz ou deixa de fazer, sem coação nem imposição de ninguém; que depende do livre-arbítrio para fazer ou deixar de fazer, espontaneamente, por vontade própria, sem constrangimento ou obrigação.

Para algumas pastorais ou serviços o adjetivo pode até ser aplicado, mas para o catequista, NUNCA.

O voluntário como vimos na definição é aquele que faz por vontade própria e, portanto, não tem compromisso em continuar fazendo ou não, podendo deixar a qualquer momento o seu trabalho.

O "catequista" que se considera voluntário, ou age como um, definitivamente não é catequista. Pode ter o título, mas não passa disso, e é fácil identificar aquele que é "catequista voluntário", pois esse não tem compromisso com seu trabalho, prioriza outras coisas, trabalha em várias pastorais ao mesmo tempo e escolhe a reunião que quer ir, e quando algo não esta de acordo com aquilo que acredita, escolhe, espontaneamente, deixar o trabalho de lado, sem ao menos procurar solução. Esse definitivamente é mais um como muitos que "atiram para todos os lados" e nunca acertam o alvo.

O voluntário não serve para ser catequista e se for deve deixar a catequese, pois NUNCA fará um bom serviço. Ele age como quer e quando quer. Ele ensina a palavra de Deus, não a prega, não a vive em seu dia-a-dia e normalmente da contra testemunho.

O verdadeiro catequista é VOCACIONADO. Ele ouviu e acolheu o chamado de Deus em seu coração.

O vocacionado faz da catequese uma extensão de sua vida. Ele a prioriza sobre os outros trabalhos ou serviços que faz e procura SEMPRE estar presente nos eventos da catequese, seja reunião, formação ou eventos.

O CATEQUISTA vive a palavra a Deus e a prega com sua vida dando testemunho daquilo que fala. Ele cativa pelo amor e pela fé. Os seus olhos têm um brilho diferente, pois refletem todo o amor de Deus neles.  Ele não fala por si próprio, mas deixa Deus falar em seus atos e por sua boca. A vontade de Deus se torna seu dever.

Claro que para ser catequista não precisa ser um "super-homem" ou uma "mulher maravilha" até porque isso é impossível. O catequista é uma pessoal normal, que chora, briga, tem medos e ansiedades, mas procura com todo o seu coração ser uma pessoa melhor.

Sem dúvida alguma a catequese é a pastoral mais importante da igreja, pois todos, sem exceção, já passaram por ela, sejam como catequizandos ou catequistas.

Nossa missão é muito importante, pois falamos da e pela igreja. Somos, juntos com os padres e evangelizadores, a voz de Deus no meio do povo. Somos exemplo e referência para muitos. O mau exemplo de um catequista pode fazer com que uma pessoa se afaste para sempre da igreja e o bom exemplo, pode trazer definitivamente um novo filho de Deus para os braços do pai.

Já é hora de todos nós assumirmos de vez nossa missão, nossa vocação com amor e dedicação.

A oração é a ferramenta para chegarmos onde Deus quer e a doação incondicional é a nossa resposta de agradecimento a Deus por ternos escolhido para essa tão bela missão.

Louvado seja nosso Pai, nosso senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo para todo sempre. Amém.

Abraços a todos

Carlos Garcia, um catequista imperfeito, mas vocacionado.
Fonte: http://catequese-viva.blogspot.com/

"Gálatas 2:20 - logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim."

OS SALMOS E A CATEQUESE

1.      Origem e formação do Livro dos Salmos.

Na origem de cada salmo está um salmista, um poeta, um a pessoa. Na origem do livro dos Salmos está uma comunidade, um povo. O povo se reconhecia nos salmos, pois eram a expressão da sua fé, esperança e amor. Por isso os cantava, selecionava e guardava na memória. Assim chegou ao Livro dos Salmos. Foi um processo longo, muito semelhante ao que acontece hoje na formação dos Livros de canto usados na catequese e na evangelização de nossas comunidades.

O Livro dos Salmos visto bem de perto, parece uma colcha de retalho. Os retalhos vêm de coleções que já existiam antes do livro. Um simples levantamento dos títulos oferece o seguinte quadro geral:
1.         Salmos 3 a 41 -------------- De Davi (menos o 33)
2.         Salmos 42 a 49 ------------- Dos filhos de Coré
3.         Salmos 51 a 65 ------------- De Davi
4.         Salmos 68 a 70 ------------- De Davi
5.         Salmos 73 a 83 ------------- De Asaf
6.         Salmos 84 a 88 --------------Dos filhos de Coré (menos o salmo 86)
7.         Salmos 105 a 107 -----------Começam com aleluia
8.         Salmos 111 a 118 ---------- Começam com aleluia (menos o Sl 115)
9.         Salmos 120 a 134 ---------- Cânticos de subida
10.       Salmos 146 a 150 ---------- Começam com aleluia.
           
Este quadro mostra que antes do Livro dos salmos, havia várias Coleções de salmos: algumas atribuídas a determinados autores: Davi, Filhos de Coré e Asaf, outras feitas em determinadas ocasiões e solenidades. Isso explica certas repetições. Por exemplo, o salmo 14 se repete no 53. Os dois são atribuídos a Davi, mas de coleções diferentes. O Salmo 70 se repete nos versículos 14 a 18 do Sl 40. Aqui também, os dois são de Davi, mas de coleções diferentes. Na edição final do Livro dos Salmos, as coleções menores foram reunidas na grande coleção dos 150 Salmos. Se o livro dos Salmos fosse uma única de um único autor, não haveria tais repetições. Os hebreus deram à inteira coleção o título de Tehillim (louvores), privilegiando o hino ou louvor, embora as súplicas sejam mais numerosas. Na verdade, a Bíblia hebraica atribui 73 salmos a Davi.

A tradução grega, do século III a.C., atribui a ele 82 salmos. No tempo de Jesus atribuíam todos os salmos a Davi (cf Lc 20, 42). Por que os salmos são atribuídos a Davi? Desde o rei Josias (640-609) e, sobretudo depois do Exílio (586-538), Davi tornou-se um expressão da esperança do povo. Isto aconteceu muito provavelmente, sob a influência dos sacerdotes do Templo de Jerusalém. O povo esperava um novo Davi para estabelecer o direito e a justiça dos pobres (Sal 72, 1-2; 78, 70; 8, 4. 21; 132, 1.10.17; 144, 10). Por isso que os Livro das Crônicas, escrito depois do Exílio, omite os pecados de Davi e o apresenta como um homem santo e perfeito.

2.      Gênero Literários dos Salmos
     
Hoje é comum a classificação dos salmos por Gêneros Literários. O gênero é definido pelo tema, desenvolvimento, recursos formais e pela situação em que nasce ou para qual foi composto. Do ponto de vista literário e estilístico, os salmos distinguem-se em três grandes Gêneros: HINOS- SÚPLICAS E AÇÃO de GRAÇA.
 -    Hinos: Sua composição é bastante uniforme. Todos começam por uma exaltação de louvor a Deus. O corpo do hino descreve os motivos deste louvor, os prodígios realizados por Deus na natureza, especialmente sua obra criadora na história:
§         Salmos: 8; 19; 33; 46; 48; 76; 84; 87; 93; 96; 97; 98; 99; 100; 103; 104; 105; 106; 113; 114; 117; 122; 135; 136; 143; ; 144; 145; 146-150.
-   Súplicas: As súplicas começam sempre com uma invocação, acompanhada de pedido de socorro, de prece ou de expressão de confiança. São classificados em súplicas coletivas e súplicas individuais. Estas preces suplicantes são particularmente numerosas e seu conteúdo é muito variado.
-   Súplicas Coletivas:
§         Salmos: 12; 44; 60; 74; 78; 79; 80; 83; 85; 105; 106; 123; 129; 137.
-   Súplicas Individuais:
§         Salmos: 3; 5; 6; 7; 13; 17; 22; 25; 26; 28; 31; 35; 38; 42; 43; 51; 54; 55; 56; 57; 59; 63; 64; 69; 70; 71; 77; 86; 102; 120; 130; 140; 141; 142; 143.
-   Ação de Graças
São salmos de agradecimentos a Deus. A estrutura literária destes salmos é semelhante a dos hinos.
§         Salmos: 18; 21; 30; 33; 40; 65; 66; 67; 68; 92; 116; 118; 124; 129; 138; 144; 14 8; 149; 150.
      Há outros salmos chamados de Cânticos régios, ou seja, são oráculos em favor do Rei.
§         Salmos: 2; 16; 18; 20; 28; 43; 61; 63; 72; 101; 110; 132; 144.

3.      Os Salmos e a Catequese

Os salmos são de um profundo conteúdo catequético. É o lado orante da caminhada do povo de Deus. É uma amostra da oração que brota de um coração desejoso de Deus; provoca a criatividade e leva os catequizandos a fazer seu próprio salmo; alimenta a esperança. Os salmos são de um valor inestimável para na vida do cristão. Deve ser amplamente explorado na catequese por causa de sua riqueza incomparável. Na catequese, seu uso é indispensável para ensinar a rezar, pois eles:

-     Vem carregado de experiência da vida de um povo;
-     Ensinam-nos a rezar com e a partir da vida;
-     Levam-nos à descoberta do sentido comunitário da oração;
-     Corrigem nossa oração instintiva, exclusiva ou quase exclusivamente de repetição de outras orações;
-     Colocam-nos à escuta de Deus que nos fala pela sua Palavra;
-     Estimulam-nos na oração centrada no amor;
-     Conserva a memória do povo, pois lembra os fatos importantes da história;
-     Educa o povo na escuta dos apelos de Deus, pois traz os grandes apelos dos profetas e dos sábios;
-     Reforça a fé, pois convida para um contato mais íntimo com Deus;
-     Anima a caminhada, pois aprofunda o compromisso da Aliança.

Na catequese, convém usá-los com muito zelo apostólico e catequético. Apresentar de maneira simples considerando a realidade de cada interlocutor. Para que o catequista use com proveito os salmos na catequese deve, ele, em primeiro lugar, ter o gosto pela oração através dos salmos. Familiarizar com a Bíblia, criar gosto e hábito de oração através com a Bíblia. Ter gosto de ler diariamente as Sagradas Escrituras, como fonte e alimento da nossa mística cristã.

Texto organizado por
Ir. Maria Aparecida Barboza
Teóloga e Doutoranda em Teologia Bíblica pela PUC- RIO

Fontes pesquisadas
1-     Sagradas Escrituras: Tradução Jerusalém e CNBB;
2-     KUISNR, Maria da C; BAGUINSKI, Thereza. A Bíblia fonte da Catequese e do Ensino Religioso.Vozes, 1998;
3-     SICRE, José Luis. Introdução ao Antigo Testamento. Vozes, 1999.
4-     CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL. Sabedoria e poesia do povo de Deus. Coleção Tua Palavra é vida, Loyola, 1993.

domingo, 22 de maio de 2011

Irmã Dulce será a terceira religiosa, natural do Brasil, a ser beatificada

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, mais conhecida como Irmã Dulce, teve uma vida peculiar. Começou a praticar caridade com 13 anos, entrou para o convento com 19 e dedicou todos seus 77 anos de trajetória à caridade. Prestes a ser beatificada – a cerimônia acontece hoje dia 22 de maio, em Salvador (BA).

1) Por causa de um enfisema pulmonar, Irmã Dulce viveu os últimos 30 anos da sua vida com a saúde abalada seriamente – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida e chegou a pesar 38 quilos. Entretanto, nem mesmo a doença a impediu de construir e manter uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país. Morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos.

2) Irmã Dulce foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar com sua boneca inseparável Celica, empinar pipa e tinha especial predileção pelo futebol – era torcedora do Esporte Clube Ipiranga, time formado pela classe trabalhadora, o primeiro a romper com o perfil elitista do esporte baiano no início do século XX.

3) Irmã Dulce começou a praticar caridade aos 13 anos, acolhendo mendigos e doentes em sua casa. Nessa época, sua residência ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal o número de carentes que se aglomeravam no local. Quando entrou no Convento de Nossa Senhora do Carmo, aos 19 anos, escolheu o nome de Irmã Dulce (seu nome verdadeiro é Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes), em homenagem à mãe.

4) Por causa do grande número de operários no bairro de Itapagipe, a religiosa criou, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia. O movimento era mantido com a arrecadação de três cinemas construídos por meio de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano.

5) Para abrigar doentes que recolhia nas ruas, a religiosa chegou a invadir cinco casas na Ilha dos Ratos, em 1937. Expulsa do lugar, ela peregrinou durante uma década, levando os seus doentes por vários lugares. Por fim, em 1949, ocupou um galinheiro ao lado do convento, com autorização da sua superiora, para abrigar os primeiros 70 doentes. Hoje, no local, está o Hospital Santo Antônio, o maior da Bahia.

6) Em julho de 1979, Madre Teresa de Calcutá recebeu convite de Dom Avelar para ir a Salvador fundar uma casa da Ordem Missionária da Caridade, no bairro de Alagados. Irmã Dulce quis conhecer a famosa religiosa, que receberia o Prêmio Nobel da Paz naquele ano. Com dificuldades para manter as obras, devido à doença, Irmã Dulce chegou a oferecê-las para a colega.

7) Em 1988, Irmã Dulce foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Ela não o venceu, entretanto teve o trabalho mais reconhecido. Quem levou a premiação foram as ‘Forças de Paz das Nações Unidas’ (conhecidas como ‘Capacetes azuis’), pelos seus esforços a serviço da preservação da paz.

8) Em sua segunda visita ao Brasil, em 20 de outubro de 1991, o Papa João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e ir ao Convento Santo Antônio visitar Irmã Dulce, já bastante debilitada, no seu leito de enferma. Cinco meses depois da visita do Pontífice, os brasileiros chorariam a morte do ‘Anjo bom da Bahia’. No velório, cerca de 50 pessoas desmaiaram e o cenário se dividiu entre pobres e grandes personalidades do país.
9) 
Na exumação do seu corpo, em junho de 2010, os representantes do Vaticano e pessoas presentes se mostraram impressionados com a mumificação natural do corpo, 18 anos após a morte da religiosa. A exumação é a penúltima etapa do processo de beatificação. “A roupa estava conservada mesmo após 18 anos, apesar de um pouco escura. O semblante dela é muito sereno, não há odor”, disse a sobrinha e superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce, Maria Rita Pontes, em entrevista à imprensa na época.

10) No dia 22 de maio, Irmã Dulce será a terceira religiosa, natural do Brasil, a ser beatificada. No hall das beatas brasileiras, já temos Albertina Berkenbrock e Lindalva Justo de Oliveira. A única beata estrangeira, mas com missão no país, é a austríaca Bárbara Maix.

sábado, 21 de maio de 2011

HOMILIA

5º Domingo da Páscoa – A


O centro do Evangelho deste domingo é a partida de Jesus. O Senhor vai, enquanto os discípulos ficam. Isso pode causar tristeza e medo. Como será a vida dos discípulos a partir de agora? Por isso, o Senhor deixa o seu testamento: Jesus deixa suas garantias, fazendo os seus discípulos entenderem que não ficarão desamparados.
“Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também” (Jo 14,1). Jesus nos deixou uma palavra de esperança. Nossa garantia é que Ele não nos abandona, ou seja, não irá para o Céu nos deixando sem sua presença. Ele continua no amor, no dom do Espírito, na oração, na paz (são temas deste capítulo do Evangelho). Deus não nos abandona. Hoje Ele parte o pão e é alimento verdadeiro. É preciso que tenhamos esta fé, esta certeza, esta esperança.
O nosso coração se angustia quando esquecemos de que Deus é a nossa segurança. Enquanto Ele não for a pedra angular de nossa vida, não podemos ser felizes (2ª. Leitura). Há muitas pedras que são ilusões: coisas, atividades, vícios... Não podemos viver tropeçando. Ao menos, precisamos aprender com as quedas. Jesus pode ser pedra de tropeço para aqueles que não desejam comprometer a vida com o projeto do Pai. Que seja Ele a pedra principal da vida de todos nós.
“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14, 2-3). Os judeus não tinham grandes casas, por isso, são significativas as palavras que informam sobre a quantidade de moradas. Significa para os interlocutores de Jesus que haverá, no futuro escatológico, lugares para todos. A esperança ultrapassa a certeza desta vida, ainda que ela seja cheia da presença do Senhor. A esperança segue para a vida futura, para a morada do Reino definitivo.
Tomé quer saber qual é o caminho. Que frustração para Jesus... Há quanto tempo eles estavam com Ele, e ainda não tinham entendido sua proposta, não tinham assimilado que Ele é o caminho para o Pai, que aquele que vê o Senhor Jesus vê também o Pai. Hoje, os que se dizem seguidores do Cristo continuam cheios de incompreensões: são muitos os que não entendem que Jesus é o Caminho, ou seja, que é preciso seguir os seus passos, colocar-se a caminho, ser discípulo. Frequentemente, vemos o cristianismo ser confundido com práticas mercadológicas, ou ainda com formas que oferecem só o bem estar físico e mental, ou ainda com ritualismos arcaicos e fórmulas burocráticas. Não é raro verificar as pessoas e as instituições sendo colocadas no lugar do Cristo. O convite de Jesus nos faz rever a nossa prática religiosa.
O que Ele deseja? Ele gosta de gente caminhando, por isso fez o seu Povo peregrino, além de caminhar para Jerusalém. Lá Ele oferece a sua vida; seu caminho é a Páscoa. Por isso, reconhecer o Pai no Filho Jesus é descobrir que Deus habita em cada um dos homens e mulheres. Ele tem pressa pra ir, e vai para morte (o grão precisa morrer para gerar a vida!). Se quisermos seguir o seu caminho precisamos ser “hóstias vivas”, um “sacerdócio santo”: somos comunidade que realiza a continuidade da missão do Senhor (2ª. Leitura). Viver a Páscoa é saber morrer a cada dia...
Jesus é o caminho que nos leva ao Pai. Quem vê Jesus, vê o Pai. Sua verdade não são conceitos vazios, sua vida não vem das normas decoradas. Jesus é o caminho! Compreendamos sua vida, sua mensagem, seus gestos, suas palavras... Eis o centro da nossa pregação. Quem vê tudo isso, vê a Deus. Quem segue tudo isso encontra o próprio Deus e já vive em sua morada.

Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba