No artigo passado respondemos a questão: quem instituiu os sacramentos e como os instituiu? Vejamos, agora outras questões:
Por que o número sete para os sacramentos?
Contra os Reformadores protestantes, o Concílio de Trento ensinou: “Se alguém disser que os sacramentos da nova lei são mais ou são menos que sete... ou que algum destes sete não é verdadeira e propriamente sacramento, seja anátema”. Portanto, são sete os sacramentos, nem mais nem menos! Mas, que significa isso? Interessa ao Concílio não a questão do número dos sacramentos em si, mas sim afirmar que o Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção, a Ordem e o Matrimônio são realmente sacramentos e somente estes o são! Eis alguns exemplos interessantes: sabemos que o sacramento da Ordem é constituído por três graus (episcopado, presbiterato e diaconato), todos os três realmente graus sacramentais. Assim, se afirmássemos que os sacramentos são nove, considerando que o episcopado e o diaconato também são verdadeiros sacramentos, não estaríamos dizendo nenhuma heresia, apesar de alterar o número sete! Não estaríamos inventando sacramentos, mas simplesmente arrumando de modo diferente os sacramentos instituídos por Jesus Cristo . Teríamos a seguinte relação: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção, Episcopado, Presbiterato, Diaconato e Matrimônio. Um outro exemplo interessante: suponhamos que algum teólogo afirmasse que o Batismo e a Confirmação são um só sacramento com dois graus, teríamos, então, seis sacramentos e, nem assim, estaríamos ferindo o Concílio de Trento, desde que se mantenha firme que a Confirmação realmente comunica a graça de um modo peculiar! Assim, a insistência no número sete é simbólica!
Mas, então, por que o número sete? Já vimos em outros artigos que, na Bíblia, o número sete significa plenitude e totalidade: é a soma de três (que indica Deus) e quatro (que significa o mundo); então, Deus e o mundo, tudo quanto existe! Quando a Igreja afirma que são sete os sacramentos, quer simplesmente afirmar que eles conferem a totalidade da graça de Cristo e também que cobrem a totalidade da existência humana e a coloca sob a ação benfazeja e salvadora da graça de Deus que veio a nós por Jesus Cristo na força do Espírito Santo. Claro que a graça não nos vem somente através dos sacramentos; mas é certo que os sacramentos são canais privilegiados desta graça divina e nos coloca em contato com ela na sua plenitude. Toda a existência humana, em todos os seus momentos, é marcada pela graça do Cristo Jesus!
Quem celebra os sacramentos?
Para responder a isto é necessário compreender uma coisa importante: no Novo Testamento há um só sacerdote, que eleva ao Pai o culto verdadeiro e santo, Jesus Cristo! Mas todos nós, cristãos, participamos do seu sacerdócio: os leigos, pelo Batismo; os bispos, padres e diáconos, pelo sacramento da Ordem; os leigos como membros do Corpo do Cristo-único sacerdote e os ministros ordenados como representantes do Cristo-Cabeça do Corpo, que é a Igreja.
Assim, os sacramentos são para a Igreja e quem os celebra é a Igreja, comunidade dos batizados, enquanto Corpo do Cristo Cabeça. Ao participarmos da celebração dos sacramentos nós somos concelebrantes, cada um, porém do seu modo específico. Por exemplo: na Eucaristia é toda a Igreja quem celebra, todos os batizados que dela participam. Nenhum cristão assiste à Missa; o cristão participa da Missa! Já um não-batizado, mesmo que esteja lá e responda e cante, apenas assiste! Participamos da celebração dos sacramentos porque somos membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Mas um é o modo de participar dos leigos e outro o modo de participar do sacerdote: o padre torna presente o Cristo Cabeça do Corpo que é a Igreja, enquanto os batizados participam como membros do Corpo de Cristo.
Então, quem celebra os sacramentos? A Igreja, Corpo de Cristo, unida à sua Cabeça, que é o Cristo, tornado presente na Comunidade pelos ministros ordenados.
Qual é a finalidade da celebração dos sacramentos?
Cristo morreu e ressuscitou para derramar sobre nós o Espírito Santo que nos dá a vida divina, nos torna semelhantes ao Cristo ressuscitado e, assim, nos faz filhos do Pai, à imagem do Filho Jesus. Por isso no dia mesmo da Ressurreição o Senhor derramou seu Espírito sobre a Igreja. Ora, é exatamente este dom do Espírito (que nos cristifica, nos torna imagem do Filho Jesus e, assim, vai nos fazendo filhos do Pai até a vida eterna) que recebemos em cada sacramento. Celebrando os sacramentos, recebemos o Espírito que nos faz semelhantes ao Filho Jesus e, assim, filhos do Pai e herdeiros do Céu.
Qual, então, a finalidade dos sacramentos? Cristificar-nos, fazendo-nos templos do Espírito e filhos de Deus Pai e, por isso, herdeiros do Céu. Cristificando-nos, os sacramentos nos inserem cada vez mais no Corpo do Senhor, que é a Igreja. Por isso, podemos dizer também que os sacramentos constróem a Igreja, Corpo de Cristo.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acúfida e Auxiliar de Aracajú-SEFonte: http://www.domhenrique.com.br/