Dom Genival Saraiva |
“Se Jesus não deu aos discípulos pão e vinho como seu Corpo e seu Sangue, então a celebração eucarística é vazia, uma piedosa ficção, não uma realidade que funda a comunhão com Deus e dos homens entre si.” Essa é a afirmação de Bento XVI, no livro, recentemente publicado, “Jesus de Nazaré – Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição”.
O Papa se atém à certeza do fato histórico da instituição da Eucaristia, porém, necessariamente, há de estar presente o elemento fé. “Certamente, nesse contexto, coloca-se uma vez mais a questão sobre o modo possível e adequado de uma certificação histórica. Devemos estar bem cientes de que uma investigação histórica pode conduzir sempre e só até um alto grau de probabilidade, nunca a uma certeza última e absoluta sobre todos os pormenores. Se a certeza da fé se baseasse exclusivamente sobre uma certificação histórico-científica, continuaria sempre passível de revisão.” No livro, o Papa trata do “problema da datação da Última Ceia de Jesus”, segundo a leitura dos Sinóticos e de João.
A Eucaristia é vista como um fato histórico, porque aconteceu no tempo, e como mistério da fé. Didaticamente, Jesus se reportou à Eucaristia, por etapas; situou-a como prefiguração, ao falar do maná que alimentou o povo na caminhada do deserto, na busca da terra prometida; referiu-se, mais claramente, à Eucaristia, ao falar do pão da vida, no capítulo 6º do Evangelho de São João, dizendo que daria sua carne, “para vida do mundo”; na Última Ceia, a institui, como Sacramento, ao pronunciar sobre o pão e o vinho essas palavras “Isto é o meu corpo”, “Este é o cálice do meu sangue”. “Fazei isto em memória de mim”. Todos os sacerdotes continuam repetindo, no momento da Consagração, as mesmas palavras, “in persona Christi”. Sobre esta expressão, o Beato João Paulo II escreve na Encíclica Ecclesia de Eucharistia: “Como já tive oportunidade de esclarecer em outras ocasiões, a expressão in persona Christi ‘quer dizer algo mais do que ‘em nome’, ou então ‘nas vezes’ de Cristo. In persona, isto é, na específica e sacramental identificação com o Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém.”
Os Sacramentos da Eucaristia e da Ordem coexistem e exigem-se, mutuamente, como escreve João Paulo II nessa Encíclica: “Por isso, ‘o mistério eucarístico não pode ser celebrado em nenhuma comunidade a não ser por um sacerdote ordenado, como ensinou expressamente o Concílio Ecumênico Lateranense IV’. (...) Se a Eucaristia é centro e vértice da vida da Igreja, o é igualmente do ministério sacerdotal. Por isso, com espírito repleto de gratidão a Jesus Cristo nosso Senhor, volto a afirmar que a Eucaristia ‘é a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio, que nasceu efetivamente no momento da instituição e juntamente com ela’.” Em verdade, segundo o ensinamento do Papa e conforme a vivência de cada sacerdote, sem a Eucaristia não haveria razão para o sacerdócio na Nova Aliança e na vida da Igreja. O sacerdócio da Nova Aliança, portanto, é essencialmente eucarístico porque é o sacerdócio do “único e eterno sacerdote”, como ensina a teologia da Carta aos Hebreus. (cf. Hb5-8)
A instituição da Eucaristia, como certeza histórica, é um acontecimento importante na vida da Igreja, porém, sua significação, como “mistério acreditado”, “mistério celebrado”, “mistério vivido”, “mistério anunciado” e “mistério oferecido ao mundo”, somente é compreendida pela iluminação da fé.
Dom Genival Saraiva de França
Bispo de Palmares e Presidente do Regional Nordeste II
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